A Ambitur.pt tem estado ao lado do setor da Hotelaria em Portugal, seguindo tendências, anunciando novidades, acompanhando mudanças. Hoje trazemos-lhe mais uma rubrica, desta feita procurando a visão das mulheres que escolheram o mundo dos hotéis para o seu percurso profissional. Como é ser mulher nesta indústria? É o que procuramos saber com “Hotelaria no Feminino”. Estamos hoje à conversa com Clara Ferreira, diretora comercial do EPIC SANA Marquês Hotel. que considera existirem hoje mais oportunidades para as mulheres assumirem posições de destaque, embora ainda haja desafios a superar.
É difícil ser mulher na hotelaria em Portugal nos dias de hoje? Observa alguma evolução desde o seu primeiro emprego no setor?
Nos dias de hoje, acredito que a situação tem vindo a evoluir de forma positiva. Apesar de o setor hoteleiro ter sido historicamente dominado por homens, especialmente em cargos de liderança, noto que, nas últimas décadas, tem havido uma crescente valorização do papel das mulheres. Esta mudança reflete-se na abertura de oportunidades e no reconhecimento das competências femininas em diferentes níveis hierárquicos. No meu caso, posso afirmar que houve uma evolução significativa desde o meu primeiro emprego na área. Atualmente, sinto que há mais espaço para mulheres assumirem posições de destaque, embora ainda existam desafios a superar para alcançar uma igualdade plena.
Quando começou a trabalhar no setor hoteleiro e onde?
Iniciei a minha carreira no setor hoteleiro em 2000, há já alguns anos. Comecei no Hotel Vila Galé Porto, um hotel de 4 estrelas, onde desempenhei a função de rececionista de 2ª categoria. Naquela altura, o Vila Galé Porto destacava-se por ser o hotel com a maior capacidade hoteleira da cidade, o que tornou esta experiência inicial particularmente marcante e enriquecedora para o meu percurso profissional.
O que a motivou a trabalhar na hotelaria?
O que me motivou a trabalhar na hotelaria foi, acima de tudo, a paixão pelo contacto com as pessoas e pelo privilégio de criar momentos únicos e memoráveis para os hóspedes. Sempre me fascinou a dinâmica deste setor, marcada pela constante evolução e pela necessidade de adaptação a novos desafios, o que torna cada dia único e cheio de aprendizagens.
Qual a sua função/cargo no hotel/grupo hoteleiro em que trabalha? Desde quando ocupa esse cargo? E como é o seu dia a dia?
Sou diretora comercial do Hotel EPIC SANA Marquês*****, uma posição que me enche de orgulho. Iniciei estas funções em abril de 2024. O meu dia a dia é dinâmico e desafiante, centrando-se no desenvolvimento e implementação de estratégias comerciais, na gestão de parcerias com agências de viagens e empresas, e na negociação de tarifas e pacotes. Além disso, lidero uma equipa dedicada, assegurando que trabalhamos em conjunto para alcançar os objetivos do hotel. É uma função exigente, mas extremamente gratificante, pois permite-me lidar com diferentes partes interessadas e contribuir diretamente para o crescimento e sucesso do hotel.
Alguma vez sentiu, ao longo da sua carreira, mais dificuldade em aceder a determinado cargo/função por ser mulher? Considera que ser mulher é um fator que dificulta o crescimento profissional?
Na minha experiência, acredito que a competência, a dedicação e os resultados alcançados são os fatores mais determinantes para o crescimento profissional, independentemente do género. No entanto, reconheço que ainda existem algumas barreiras, especialmente em níveis hierárquicos mais elevados, onde a presença feminina é, por vezes, menos expressiva. Felizmente, ao longo dos anos, tenho observado uma mudança significativa no que diz respeito à inclusão e ao reconhecimento do talento feminino. Esta evolução é especialmente notória nos tempos mais recentes, o que me leva a acreditar que o género tem vindo a perder relevância como fator limitador no desenvolvimento de uma carreira.
Na sua opinião, há um equilíbrio ou desequilíbrio no número de mulheres versus homens que trabalham no setor? De que forma isso se verifica-nos cargos exercidos, nos salários oferecidos? E porque razão considera que é assim?
Na minha opinião, ainda persiste um certo desequilíbrio, especialmente nas funções de gestão e liderança, onde os homens continuam a estar em maior número. Apesar disso, tenho notado uma mudança progressiva, impulsionada por iniciativas que promovem a igualdade de género e o empoderamento feminino no setor. Relativamente aos salários, embora haja sinais de evolução, ainda existem disparidades que precisam de ser corrigidas. É essencial garantir que homens e mulheres sejam remunerados de forma justa e equitativa, com base no mérito e nas competências, e não no género. Este desequilíbrio tem raízes culturais e históricas, mas acredito que a crescente consciencialização sobre a importância da equidade e a promoção de políticas inclusivas são passos fundamentais para alcançar um setor hoteleiro mais equilibrado e justo.
No seu hotel quem está em maioria – mulheres ou homens? E na equipa onde trabalha?
No meu hotel, a distribuição de género é bastante equilibrada, tanto na equipa de gestão como nas restantes áreas. Trabalhamos num ambiente colaborativo e inclusivo, onde a diversidade de ideias e perspetivas é altamente valorizada. No meu departamento, contamos com uma equipa mista que funciona de forma muito eficiente. Acreditamos que a combinação de diferentes experiências e abordagens é essencial para atingirmos os melhores resultados e para o sucesso do nosso trabalho em conjunto.
No seu caso pessoal, gosta mais de trabalhar com equipas de mulheres, só de homens ou mistas? Pessoalmente, prefiro trabalhar com equipas mistas. A diversidade de género enriquece a dinâmica de trabalho, trazendo diferentes perspetivas e contribuindo para soluções mais inovadoras e eficazes. O mais importante, contudo, é que todos os membros da equipa, independentemente do género, partilhem os mesmos valores, compromisso e objetivos, criando um ambiente colaborativo e produtivo.
É fácil conciliar a sua vida pessoal/familiar com a vida profissional? Sente uma maior pressão em atingir este equilíbrio pelo facto de ser mulher?
Conciliar a vida pessoal e profissional é, sem dúvida, um desafio, mas acredito que o segredo está num bom planeamento e na capacidade de adaptação. Como mulher, reconheço que, muitas vezes, a sociedade impõe uma maior pressão para alcançar um equilíbrio perfeito entre a carreira e as responsabilidades familiares. Apesar disso, tenho conseguido gerir este equilíbrio com sucesso, graças ao apoio da minha família e à colaboração da minha equipa de trabalho. Aprendi que é fundamental estabelecer prioridades e aceitar que nem sempre é possível fazer tudo de forma perfeita, mas sim de forma sustentável.
O que pensa que a visão feminina pode trazer de diferenciador e de positivo ao setor hoteleiro?
A visão feminina no setor hoteleiro pode oferecer uma sensibilidade única no relacionamento com os hóspedes, uma abordagem empática na resolução de problemas e uma notável capacidade de multitasking. As mulheres, em geral, destacam-se pela sua habilidade em comunicar de forma eficaz e pela gestão exemplar das relações interpessoais, competências essenciais num setor onde o contacto humano e a experiência do cliente são prioritários. Além disso, a presença feminina em cargos de liderança contribui para a diversidade de pensamento e tomada de decisão, enriquecendo as estratégias do setor. Esta representatividade pode também inspirar outras mulheres a desafiar-se, a acreditar no seu potencial e a ambicionar alcançar posições de destaque.